No Brasil, a tecnologia está unindo grandes centros de excelência médica a lugares que não tinham acesso a eles.
Quando você disser: “preciso ver um médico”, não estranhe se ele não estiver na sua frente. Você vai vê-lo, mas numa tela. Fisicamente, pode estar a 40 quilômetros de distância. Andrea mora na Restinga, um bairro pobre de Porto Alegre. É atendida pelo SUS, pela oftalmologista, que trabalha num consultório do outro lado da cidade. A doutora Aline vê o olho da Andrea na tela e opera os equipamentos à distância.
Médica: Andrea, eu vou mudar a lente. Vê se faz diferença, se fica melhor ou pior.
Paciente: Tá. Ficou melhor.
No olho direito de Andreia a lente do equipamento muda. A doutora Aline fez a troca com um toque no mouse do computador.
“Quando eu cheguei que eu vi que a médica não estava, no começo eu achei que era só uma pesquisa, tipo uma triagem para passar para a médica, mas depois eles me explicaram. E daí eu acabei pegando segurança, mas no começo foi estranho”, conta a atendente de farmácia e paciente Andrea Cristina de Aguiar.
O médico também teve que se adaptar.
“Nos nossos treinamentos temos desenvolvidos manuais para conseguir ter uma padronização das condutas, interpretar as imagens corretamente”, diz a oftalmologista Aline Lutz de Araújo.
A intenção é levar o serviço para sete municípios do Rio Grande do Sul. Isso vai facilitar a vida de quem mora longe e nem sempre tem médico por perto.
Como no interior do Piauí – o hospital na cidade de Floriano atende pelo SUS, e está conectado ao Albert Einstein, um dos mais conceituados de São Paulo, a uma distância de 2.500 quilômetros. É a doutora Carolina, em São Paulo, quem faz a ronda dos pacientes todos os dias de manhã.
Vê exames e discute a situação de cada paciente com os colegas do Piauí.
“É difícil aí para a cidade, é difícil para o hospital levar médicos para o interior do Piauí?”
“A gente tem dificuldade principalmente na questão dos profissionais da terapia intensiva da UTI, são profissionais, digamos assim, difíceis para a nossa região”, explica Justino Moreira, diretor-clínico do Hospital Tibério Nunes, no Piauí.
A parceria, que começou há três meses, já deu resultado. O número de mortes no hospital de Floriano caiu pela metade, de 23 para 11 por mês.
Além da doutora Carolina, que supervisiona uma UTI, outros médicos estão fazendo atendimento remoto no hospital. Um neurologista está na sala em frente à de um cardiologista. Desta forma, eles conseguem atender 40 hospitais espalhados pelo Brasil, e cuidar de pacientes até no meio do oceano, em plataformas de petróleo. Só em 2017 foram oito mil atendimentos sem que esses médicos precisassem sair de São Paulo.
“Com a tele medicina a gente pode se teletransportar de certa forma, e está lá diariamente do lado da equipe que está lá, cuidando”, diz Carolina Keiko Honda, médica intensivista do Hospital Albert Einstein.
Chao Lung Wen, professor de medicina da Universidade de São Paulo, diz que a telemedicina está só no começo. Já existem equipamentos como o ultrassom portátil, que mostra o exame num tablet, e impressoras 3D, que reproduzem com perfeição o corpo humano. No futuro, para muitos exames, o paciente nem vai precisar sair de casa.
“Uma série de cuidados, tipo de idosos, pessoas com deficiência, pessoas com doenças crônicas, passariam a poder ser gerenciadas em domicílio. São duas grandes áreas, e eu suponho que vai ter um grande crescimento, e nós vamos ter que formar cada vez melhor os futuros médicos para saberem lidar com isso”, explica Wen, professor de telemedicina da USP.
Fonte: G1